instalação, casa de terra, plinto em madeira, projeção vídeo, Full HD, 1m12s em loop, sem som, 2015
Videocrafts #1: earth and ice house é uma instalação composta por dois elementos de escalas aparentemente diferenciadas: uma projeção vídeo de grandes dimensões de uma casa arquetípica de gelo a derreter, em loop, e uma pequena casa de terra, apenas iluminada por um feixe de luz dramático e direcionado.
As duas casas, a de gelo e de terra, remetem sistematizando, para as paisagens simultâneas da Finlândia e de Portugal. A casa de desenho arquetípico é acima de tudo a materialização da ideia de casa do que uma representação fidedigna de uma qualquer arquitetura tradicional. A um possível programa universalista da unidade habitacional contrapõe-se, todavia, os elementos terra e gelo. A pequena casa de terra da instalação é feita com terra preta do nosso jardim portuense e a projeção de grandes dimensões da casa de gelo é – na verdade – exatamente do mesmo tamanho da casa de terra, com moldes idênticos, apresentados sobre diferentes técnicas (escultura e vídeo projeção).
O vídeo usa a técnica do timelapse em que cada frame que compõe o vídeo é uma fotografia de alta qualidade. Consegue-se com esta técnica capturar todo o detalhe do gelo, com todos os riscos que o compõe, e que mostram a forma como o gelo se foi cristalizando, ao mesmo tempo que vemos o gelo derreter, gota a gota, perfeitamente capturada através da objetiva da câmara. O movimento (de descongelar) do objeto-casa (congelada) enquanto se desfaz não deixa de ir revelando, a sua própria estrutura constitutiva, isto é, como foi congelando para se formar. Os riscos das diferentes camadas da congelação na projeção do vídeo, são como desenhos a grafite no branco da casa. A casa simplificada (se o Principezinho de Saint-Exupéry pedisse às pessoas – ou a Saint-Exupéry – que desenhassem uma casa, em vez de uma ovelha, provavelmente o primeiro desenho que receberia em resposta seria este contorno) desfazse à medida que vai mostrando como foi feita, num movimento cíclico mas como que em contraciclo. Aqui o tempo do loop é importante. É o movimento contínuo – de um minuto continuadamente em término e logo em recomeço – que a técnica simples do loop em vídeo possibilita, que permite ver e rever o fenómeno (do descongelamento que demonstra a forma como o congelamento se deu). O ciclo em contraciclo, na instalação criam mementum, numa obra que se faz e refaz, de um modo hipnótico.
A história tradicional, contada nos países nórdicos, da princesa de gelo é um conto em que se diz que uma princesa de gelo e um príncipe humano apaixonados, tomam consciência da dura realidade de não poderem partilhar a vida em comum, mas apenas uma ideia de amor. Para lá do subtexto sobre o destino histórico da realeza, votado a casamentos pré-contratualizados a favor do bem maior, e do significado de um “amor” pré-romântico, o conto, ao criar dois mundos – o do gelo e o da terra – levanta também questões da ordem da existência sobre o que significa existir num local, sem poder existir noutro. As condições do gelo e da terra impedem a princesa de gelo e o príncipe de carne e osso de partilharem, sem morrer, o mesmo espaço vital.
Também assim as paisagens de Portugal e da Finlândia, lado a lado na instalação, se contrapõe e completam, sem se misturarem: espaços geo-graficamente distantes.
Exposições:
Laking – Oksassenkatu 11 gallery, Helsínquia, Finlândia, 2016.
Laking and Seaing – Museu da Imagem (Festival de Fotografia Encontros da Imagem), Braga, 2017.